Diferente do que muitos pensam, a preocupação da Igreja com a unidade dos cristãos não é recente. Em 1964 o Papa Paulo VI publicou o Decreto Unitatis Redintegratio um dos frutos do Concílio Vaticano II (1962-1965) sobre o ecumenismo. Logo no início deste documento, o Santo Padre apontou: “Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos é um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II” (Unitatis Redintegratio n.1).
Este Decreto marcou de forma definitiva o compromisso da Igreja Católica com a unidade dos cristãos – o chamado Movimento Ecumênico. Ecumenismo é o apelo à unidade de todos os povos em torno da mensagem do Evangelho. Para isso a Igreja promove iniciativas e atividades, suscitadas e ordenadas de acordo com as suas necessidades e oportunidades, de maneira a favorecer a unidade dos cristãos (cf. Unitatis Redintegratio n.4).
Na prática, como isso funciona?
O movimento Ecumênico procura estabelecer boas relações entre pessoas e igrejas diferentes. Buscando uma unidade, no Brasil foi criado, em 1982, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), respeitado hoje como o mais importante organismo dentro dessa temática.
Dele fazem parte a Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil e a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.
Juntas essas igrejas promovem ações para ajudar os necessitados, realizam estudos sobre as doutrinas das várias igrejas, fazem celebrações e orações pedindo pela unidade dos cristãos e buscam novos métodos para lidar com as divergências, buscando sempre a comunhão entre os cristãos.
Qual a importância do Ecumenismo para a Igreja Católica?
A Igreja Católica vê a unidade dos cristãos como algo necessário para realizar sua vocação à unidade, por isso busca a comunhão plena na fé, nos sacramentos, nos ministérios. Essa unidade almejada é pautada na unicidade (singularidade) da Igreja: “O Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja” (Unitatis Redintegratio n.1). Essa Igreja se mantém “una e única”, assim como o Povo de Deus é “uno e único” (Unitatis Redintegratio n. 3.24, Lumen Gentium n. 13.32) – único rebanho de Cristo no qual todos os membros formam um só Corpo de Cristo (cf. Lumen Gentium n. 15 e 7; cf. Unitatis Redintegratio n.2 e 3).
Disso revela-se a importância dessa temática para a Igreja Católica. Os seus esforços e objetivos visam resgatar essa unidade (sacramental e espiritual) que se perdeu ao longo do tempo e da história. A grande divisão da Igreja teve início entre cristãos latinos e gregos (sec. XI), seguida da separação entre católicos e protestantes (sec. XVI).
Na convicção de que a unidade é dom de Deus, a Igreja busca assegurar a “unidade na diversidade”, o que não corresponde à uniformidade institucional, como muitos imaginam (que as demais igrejas irão acabar e que somente a católica deve permanecer, ou vice e versa), mas essa unidade busca reconhecer a Igreja de Cristo presente em suas diferentes expressões e manifestações.
Para que a Igreja alcance a unidade dos cristãos, ela necessita da colaboração dos fieis. Por isso, orienta: “Lembrem-se todos os cristãos de que tanto melhor promovem e até realizam a união dos cristãos, quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais pura, de acordo com o Evangelho. Porque, quanto mais unidos estiverem em comunhão estreita com o Pai, o Verbo e o Espírito, tanto mais íntima e facilmente conseguirão aumentar a fraternidade mútua” (Unitatis Redintegratio n.7).
A Igreja deseja que tanto os católicos quanto os irmãos separados unam forças em prol da unidade dos cristãos: “que não se ponham obstáculos aos caminhos da Providência; e que não se prejudiquem os futuros impulsos do Espírito Santo” (Unitatis Redintegratio n. 24).