Nascido em 1567 numa nobre família de barões, Francisco de Sales recebeu de seus pais uma educação cristã. O seu nome lhe foi atribuído pela devoção, nutrida pelo pai e pela mãe, a São Francisco de Assis. Quando foi para a universidade, estudou teologia, filosofia e retórica com os padres Jesuítas. Aos 24 anos, após concluir seus estudos, conseguiu trabalho como senador e sua família lhe arrumou uma bela e rica noiva para contrair as núpcias.
Francisco tinha uma carreira brilhante pela frente e uma vida confortável. Mas não era às coisas do mundo que ele queria se dedicar. Como sacerdote, ele trabalhou com afinco para converter almas para Deus. Distribuía folhetos combatendo heresias e apresentando as verdades sobre a Igreja. Foi um incansável diretor espiritual de muitos que queriam crescer na amizade com Deus.
O jovem padre logo chegou a Bispo de Genebra. Fundou escolas, catequizou adultos e crianças e fundou uma Congregação Religiosa – a Ordem da Visitação – num trabalho em conjunto com outra importante santa, Madre Joana de Chantal.
São Francisco de Sales sabia proferir palavras que tocavam profundamente os corações, inclusive de pessoas da alta nobreza. Ele se dedicou com profusão a escrever livros que marcam a história da evangelização e o tornaram Doutor da Igreja. Entre suas obras, destacamos “Tratado do Amor a Deus” onde ele propõe que “a medida de amar a Deus é amá-lo sem medida”; e “Filoteia – introdução à vida devota”, um livro dedicado àqueles que querem crescer na amizade com Deus. E é dessa obra que transborda em graças que coletamos 10 conselhos de São Francisco de Sales para melhor amarmos a Deus. Abra seu coração e permita-se ao amor.
Busque sempre purificar teu coração
“Nenhum outro motivo devemos ter em nossas intenções e ações além do de agradar a Deus (…). Aparecem as flores em nossa terra – diz o Esposo sagrado – chegou o tempo da poda – Que flores são estas para nós, senão os bons desejos? Logo que eles despertam em nossos corações, é preciso envidar todo o esforço para purificá-los de todas as obras mortais e supérfluas. (…) Ninguém seguiu ainda tão bem o conselho de purificar o coração, como aquele santo penitente que, embora já fosse lavado de suas iniquidades, pedia sempre de novo a Deus, durante a sua vida, que o lavasse sempre mais desses pecados”.
Procure ter o acompanhamento de um diretor espiritual
O diretor espiritual “será para nós um tesouro de sabedoria para evitar o mal e praticar o bem de uma maneira mais perfeita; ele nos dará conforto para aliviar-nos em nossas quedas e nos dará o remédio mais necessário para a cura perfeita de nossas enfermidades espirituais. (…) Suplica a Deus um diretor espiritual e, quando o achares, agradece à Divina Majestade; persevera então em tua escolha, sem ir procurando outros; caminha para Deus com toda a simplicidade, humildade e confiança”.
Combata com coragem tuas imperfeições
“Por isso não nos devemos perturbar à vista de nossas imperfeições, porque a luta contra elas não pode nem deve acabar antes de nossa morte. A nossa perfeição consiste em combatê-las; mas não as podemos combater e vencer sem que as sintamos e conheçamos; a própria vitória que esperamos conseguir sobre elas, de modo algum consiste em não as sentir, mas exclusivamente em não consentir nelas. Demais, sentir as suas imperfeições não é dar o próprio consentimento; (…) entretanto, só seremos vencidos se perdemos a vida ou a coragem. Ora, as imperfeições e faltas veniais não nos podem tirar a vida espiritual da graça de que só o pecado mortal nos priva; portanto, o que temos que temer aí é a perda da coragem; mas digamos com Davi, a Nosso Senhor: Salvai-me, Senhor, da pusilanimidade e do desânimo. (…) Poderemos vencer sempre, uma vez que queiramos combater.
Pratique a oração para conformar tua vida com a de Cristo
“A oração, fazendo o nosso espírito penetrar na plena luz da divindade e expondo a nossa vontade abertamente aos ardores do amor divino, é o meio mais eficaz de dissipar as trevas dos erros e ignorância que obscurecem a nossa mente e de purificar o nosso coração de todos os seus afetos desordenados. É ela a água da graça, que lava a nossa alma de suas iniquidades, alivia os nossos corações, opressos pela sede das paixões, e nutre as primeiras raízes que a virtude vai lançando, que são os bons desejos. Mas o que muito em particular te aconselho é a oração de espírito e de coração e, sobretudo, a que se ocupa da vida e paixão de Nosso Senhor: contemplando-o, sempre de novo, pela meditação assídua, tua alma há de por fim encher-se dele e tu conformarás a tua vida interior e exterior com a sua”.
Conviva com os Anjos
“Sendo pelo ministério dos anjos que muitas vezes recebemos as inspirações de Deus, é também por meio deles que lhe devemos apresentar as nossas aspirações (…). Procura uma familiar convivência de tua alma com os anjos, lembrando-te muitas vezes de sua presença; ama e venera, sobretudo, o anjo da diocese onde estás, os das pessoas com quem vives e em especial o teu próprio. Reza a eles de vez em quando, bendize a Deus por eles, implora-lhes a proteção em todos os negócios espirituais e temporais, para que auxiliem as tuas intenções”.
Busque o auxílio dos Santos
“Devemos apresentar nossas aspirações, não menos que por meio dos santos e santas, que, como Nosso Senhor disse, sendo agora semelhante aos anjos na glória de Deus, lhe apresentam de contínuo as suas orações e desejos em nosso favor. Escolhe um santo em cuja intercessão deponhas especial confiança e cuja vida possas ler com maior gosto para lhe imitar as virtudes”.
Ouça com proveito a Palavra de Deus
“Deves ter um gosto especial em ouvir a Palavra de Deus, mas ouve-a sempre com atenção e respeito, quer no sermão, quer em conversas edificantes dos teus amigos que gostam de falar de Deus. É a boa semente, que não se deve deixar cair em terra. Aproveita-te bem dela; recebe-a no teu coração como um bálsamo precioso, à imitação da Santíssima Virgem, que conservava no seu peito, cuidadosamente, tudo o que ouvia dizer de seu divino Filho, e lembra-te sempre que Deus não ouvirá favoravelmente as nossas palavras na oração se não tirarmos proveito das suas nos sermões.
Busque regularmente o sacramento da confissão e procure corrigir teus erros
“Nosso Senhor instituiu na sua Igreja o sacramento da penitência ou confissão para purificar as nossas almas das suas culpas, todas as vezes que se acharem manchadas. Nunca permitas que teu coração permaneça muito tempo contaminado pelo pecado, tendo um remédio tão eficaz e simples contra a sua corrupção. (…) Conserva sempre uma verdadeira dor dos pecados confessados, por menores que sejam, e uma firme resolução de corrigires-te. Pessoas há que se confessam dos pecados veniais só por um certo hábito que lhes agrada e sem pensar em corrigir-se e por isso não se livram deles e se privam de muitas graças necessárias para o seu progresso espiritual”.
Tenha como meta a humildade e a mansidão
“A mansidão e a humildade, duas virtudes tão caras ao divino Coração de Jesus e que Ele nos recomendou expressamente, dizendo-nos: Aprendei de mim, que seu manso e humilde de coração; como se unicamente por amor destas duas virtudes quisesse consagrar o nosso coração ao seu serviço e aplicá-lo à imitação de sua vida. A humildade aperfeiçoa o homem em seus deveres para com Deus; e a mansidão, em seus deveres para com a sociedade humana. (…) A humildade verdadeira e a mansidão sincera são esplêndidos preservativos contra o orgulho e a ira que as injúrias costumam excitar em nós”.
Alcance a perfeição espiritual por meio da caridade
“A verdadeira devoção, pressupõe o amor de Deus, ou melhor, ela mesma é o mais perfeito amor a Deus. Esse amor chama-se graça, porque adereça a nossa alma e a torna bela aos olhos de Deus. Se nos dá força e vigor para praticar o bem, assume o nome de caridade. E, se nos faz praticar o bem frequentemente, pronta e cuidadosamente, chamava-se devoção e atinge então ao maior grau de perfeição. (…) A devoção não é nada mais do que uma agilidade e viveza espiritual, da qual ou a caridade opera em nós, ou nós mesmo, levados pela caridade, operamos todo o bem que somos capazes. (…) A caridade é o fogo espiritual da alma, o qual, quando se levanta em labaredas, tem o nome de devoção, de sorte que a devoção nada acrescenta, por assim dizer, ao fogo da caridade além dessa chama, pela qual a caridade se mostra pronta, ativa e diligente na observância dos mandamentos de Deus e na prática dos conselhos e inspirações celestes”.