O debate foi estimulado pelo avanço da extrema direita e pelas preocupações com o aumento no fluxo de refugiados
A Alemanha foi palco nesta quarta-feira (25) de ações solidárias com a comunidade judaica, depois de uma série de incidentes que reforçaram o temor de um ressurgimento do antissemitismo no país, 70 anos depois do Holocausto.
Organizou-se uma concentração sob o lema “Berlim usa kipá”, convocada pela comunidade judaica. Outras cidades, como Colônia, Potsdã, Erfurt e Madeburgo, anunciaram sua adesão ao movimento.
Para aqueles que não têm um kipá, o solidéu usado pelos judeus, o jornal berlinense TAZ publica em sua edição de hoje instruções para fazer um em casa, com um modelo em papel.
Ontem, o presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, Joseph Schsuter, causou polêmica ao aconselhar os judeus a não usarem o kipá nas grandes cidades alemãs por questão de segurança.
Para a ministra da Justiça, Katarina Barley (socialdemocrata), a manifestação é um sinal importante de solidariedade.
“Os judeus não devem ter medo de mostrar que são judeus na Alemanha”, declarou hoje.
Em entrevista ao “Tagesspiegel”, o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, considerou que qualquer ataque contra um judeu é um ataque contra a sociedade alemã como um todo.
Essa mobilização acontece uma semana depois de um refugiado sírio ter agredido dois jovens que usavam kipá em um bairro nobre de Berlim. Gravado e postado nas redes sociais, o incidente causou comoção em um país atormentado por seu passado nazista.
A chanceler Angela Merkel denunciou um “incidente terrível” e prometeu “reagir”.
O episódio parece ter sido a gota d’água, depois que, alguns dias antes, os rappers Kollegah e Farid Bang, autores de letras bastante polêmicas, foram agraciados com o prestigioso prêmio musical alemão ECHO de álbum de hip hop mais vendido.
O antissemitismo tem várias facetas na Alemanha, diz o TAZ, em editorial publicado hoje.
“Pode se expressar de forma amável, teórica, ou às vezes grosseira. E, às vezes, brutalmente, como na semana passada”, acrescenta, considerando que “chegou o momento” de reagir.
O debate foi estimulado pelo avanço da extrema direita e pelas preocupações com o aumento no fluxo de refugiados, sobretudo, de árabes – mais de um milhão desde 2015 na Alemanha.
O centro Simon Wiesenthal alerta que é preciso ter cuidado, porém, para não atribuir o recente aumento do antissemitismo apenas à população muçulmana, ou árabe.
Fonte: Aleteia