Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã deste sábado da III Semana da Páscoa. Na introdução, o Papa dirigiu seu pensamento aos governantes:
Rezemos hoje pelos governantes, que têm a responsabilidade de cuidar de seus povos nestes momentos de crise: chefes de Estado, chefes de governo, legisladores, prefeitos, governadores… Para que os Senhor os ajude e lhes dê força, porque o trabalho deles não é fácil. E quando houver diferenças entre eles, entendam que, nos momentos de crise, devem ser muito unidos para o bem do povo, porque a unidade é superior ao conflito.
Hoje, sábado, 2 de maio, se unem a nós em oração 300 grupos de oração que se chamam os “madrugadores”, em espanhol, isto é, os matineiros: aqueles que se levantam cedo para rezar, madrugam, propriamente para rezar. Eles se unem a nós hoje, neste momento.
Na homilia, o Papa comentou as leituras do dia, a partir da passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 9,31-42) que conta como a primeira comunidade cristã se consolidava e, com o conforto do Espírito Santo, crescia em número. Em seguida, traz dois eventos tendo Pedro ao centro: a cura de um paralítico em Lida e a ressurreição de uma discípula chamada Tabita. A Igreja – afirmou o Papa – cresce nos momentos de conforto. Mas há tempos difíceis, de perseguições, tempos de crises que colocam os fiéis em dificuldade. Como diz o Evangelho do Dia (Jo 6,60-69) em que, após o discurso sobre o pão vivo descido do céu, a carne e o sangue de Cristo que dá a vida eterna, muitos discípulos abandonam Jesus dizendo que a sua palavra é dura. Jesus sabia que os discípulos murmuravam e nesta crise recorda que ninguém pode vir a Ele se o Pai não o atrai. O momento de crise é um momento de escolha que nos coloca diante das decisões que devemos tomar. Também esta pandemia é um momento de crise. No Evangelho Jesus pergunta aos Doze se também eles querem ir embora e Pedro responde: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”. Pedro confessa que Jesus é o Filho de Deus. Pedro não entende aquilo que Jesus diz, comer a carne e beber o sangue, mas confia. Que isso – prosseguiu Francisco – nos ajude a viver os momentos de crise. Nos momentos de crise é preciso ser muito firmes na convicção de fé: há perseverança, não é o momento de fazer mudanças, é o momento da fidelidade e da conversão. Nós cristãos devemos aprender a administrar tanto os momentos de paz quanto os de crise. Que o Senhor – foi a oração conclusiva do Papa – nos envie o Espírito Santo para resistirmos às tentações nos momentos de crise e sermos fiéis, com a esperança de depois viver momentos de paz, e nos dê a força de não vender a fé.
A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
A primeira Leitura tem início: “Naqueles dias, a Igreja, vivia em paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria. Ela consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo”. Tempo de paz. E a Igreja cresce. A Igreja está tranquila, tem o conforto do Espírito Santo, está em consolação. Os bons tempos… Depois segue a cura de Enéias, depois Pedro ressuscita Gazela, Tabita… coisas que se fazem em paz.
Mas há tempos não de paz, na Igreja primitiva: tempos de perseguições, tempos difíceis, tempos que colocam os fiéis em crise. Tempos de crise. E um tempo de crise é o que o Evangelho de João nos conta hoje. Essa passagem do Evangelho é o final de toda uma sequência que teve início com a multiplicação dos pães, quando queriam fazer Jesus rei, Jesus vai rezar, eles no dia seguinte não o encontram, vão procurá-lo, encontram-no e Jesus os repreende que o procurem para que lhes dê de comer e não pelas palavras de vida eterna… e toda aquela história acaba aqui. Eles lhe dizem: “Dai-nos este pão”, e Jesus explica que o pão que dará é o próprio corpo e o próprio sangue.
Naquele tempo, muitos dos discípulos de Jesus, após terem ouvido disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” Jesus tinha dito que quem não comesse o seu corpo e (bebesse) o seu sangue não teria a vida eterna. Jesus, também dizia: “Se comerdes o meu corpo e (beberdes) o meu sangue, ressuscitareis no último dia”. Essas, as coisas que Jesus dizia, e “esta palavra é dura”, é muito dura. Algo aqui não está bem. Este homem foi além dos limites. E este é um momento de crise. Havia momentos de paz e momentos de crise. Jesus sabia que os discípulos murmuravam: aqui se tem a distinção entre os discípulos e os apóstolos. Os discípulos eram aqueles 72 ou mais, os apóstolos eram os Doze. “Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo.” E por isso, diante dessa crise, recorda-lhes: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”. Retoma aquele ser atraídos pelo Pai: o Pai nos atrai a Jesus. E assim é como a crise se resolve.
E “a partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele”. Distanciaram-se. “Este homem é um pouco perigoso, um pouco… mas estas doutrinas… sim, é um homem bom, prega e cura, mas quando chega a essas coisas estranhas… por favor, vamos embora.” E o mesmo fazem os discípulos de Emaús, na manhã da ressurreição: “Ah, sim, uma coisa estranha: as mulheres que dizem que o sepulcro… mas aí tem coisa”, diziam eles, “vamos logo embora porque virão os soldados e nos crucificarão”. O mesmo fazem os soldados que vigiavam o sepulcro: tinham visto a verdade, mas depois preferiram vender seu segredo e “estejamos seguros”: não nos metamos nestas histórias, que são perigosas”.
Um momento de crise é um momento de escolha, é um momento que nos coloca diante das decisões que devemos tomar: todos, na vida, tivemos e teremos momentos de crise. Crises familiares, crises matrimoniais, crises sociais, crises no trabalho, tantas crises… Também esta pandemia é um momento de crise social.
Como reagir naquele momento de crise? “Naquele momento, muitos de seus discípulos voltaram atrás e não mais o seguiram”. Jesus retoma a decisão de interrogar os apóstolos: “Então, Jesus disse aos doze: “Vós também quereis ir embora?” Tomem uma decisão. E Pedro faz a segunda confissão. “Simão Pedro respondeu: ‘A quem iremos, Senhor? Tu tens palavra de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus’.” Pedro confessa, em nome dos Doze, que Jesus é o Santo de Deus, o Filho de Deus. A primeira confissão – “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” – e logo depois, quando Jesus começou a explicar a paixão que iria chegar, ele o interrompe: “Não, não, Senhor, isto não!”, e Jesus o repreende. Mas Pedro amadureceu um pouco e aqui não repreende. Não entende aquilo que Jesus diz, este “comer a carne, beber o sangue”: não entende. Mas confia no Mestre. Confia. E faz esta segunda confissão: “A quem iremos, por favor, Tu tens palavra de vida eterna”.
Isso nos ajuda, todos nós, a viver os momentos de crise. Na minha terra há um ditado que diz: “Quando tu vais a cavalo e deves atravessar um rio, por favor, não troques cavalo no meio do rio”. Nos momentos de crise, ser muito firmes na convicção da fé. Esses que foram embora, mudaram cavalo, buscaram outro mestre que não fosse tão duro, como eles diziam.
No momento de crise há a perseverança, o silêncio; permanecer onde estamos, firmes. Não é o momento de fazer mudanças. É o momento da fidelidade, da fidelidade a Deus, da fidelidade às coisas que nós assumimos antes; também, é o momento da conversão porque essa fidelidade sim, nos inspirará alguma mudança para o bem, não para distanciar-nos do bem.
Momentos de paz e momentos de crise. Nós cristãos devemos aprender a administrar ambos. Ambos. Um padre espiritual diz que o momento de crise é como passar pelo fogo para tornar-se fortes. Que o Senhor nos envie o Espírito Santo para saber resistir às tentações nos momentos de crise, para saber ser fiéis às primeiras palavras, com a esperança de depois viver momentos de paz. Pensemos em nossas crises: as crises de família, as crises do bairro, as crises no trabalho, as crises sociais do mundo, do país… tantas crises, tantas crises.
Que o Senhor nos dê a força – nos momentos de crise – de não vender a fé.
O Papa convidou aqueles que não podem comungar sacramentalmente a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
O Santo Padre terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
Vatican News
Na homilia, o Papa comentou a passagem do dia do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 8,26-40) que conta o encontro de Filipe com um etíope eunuco, funcionário de Candace, desejoso de compreender quem era a pessoa descrita pelo profeta Isaías: “Ele foi levado como ovelha ao matadouro”. Depois que Filipe lhe explicou que se tratava de Jesus, o etíope se deixou batizar.
É o Pai – afirmou Francisco recordando o Evangelho de hoje (Jo 6,44-51) – quem atrai ao conhecimento do Filho: sem essa intervenção não se pode conhecer o mistério de Cristo. Foi o que aconteceu com o funcionário etíope, que ao ler o profeta Isaías tinha uma inquietude colocada pelo Pai em seu coração. Isso – observou o Papa – vale também para a missão: nós não convertemos ninguém, é o Pai que atrai. Nós podemos simplesmente dar um testemunho de fé. O Pai atrai através do testemunho de fé. É preciso pedir que o Pai atraia as pessoas a Jesus: são necessários o testemunho e a oração. Esse é o centro do nosso apostolado. Perguntemo-nos: dou testemunho com meu estilo de vida, rezo para que o Pai atraia as pessoas a Jesus? Ir em missão não é fazer proselitismo, é testemunhar. Nós não convertemos ninguém, é Deus que toca o coração das pessoas. Peçamos ao Senhor – foi a oração conclusiva do Papa – a graça de viver nosso trabalho com o testemunho e com a oração para que Ele possa atrair as pessoas a Jesus.
A seguir, a homilia transcrita pelo Vatican News:
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”: Jesus recorda que também os profetas tinham preanunciado isto: “E todos serão instruídos por Deus”. É Deus quem atrai ao conhecimento do Filho. Sem isso, não se pode conhecer Jesus. Sim se pode estudar, inclusive estudar a Bíblia, também conhecer como nasceu, o que fez: isso sim. Mas conhecê-Lo interiormente, conhecer o mistério de Cristo é somente para aqueles que foram atraídos pelo Pai para isso.
Foi o que aconteceu a este ministro da economia da rainha da Etiópia. Vê-se que era um homem piedoso e que reservou um tempo, em meio aos muitos negócios que tinha a fazer, para ir adorar Deus. Um fiel. E voltava à pátria lendo o profeta Isaías. O Senhor pegou Filipe, enviou-o àquele lugar e depois lhe disse: “Aproxima-te desse carro”, e ouve o ministro que está lendo Isaías. (Ele) se aproxima e lhe faz uma pergunta: “Compreendes?” – “Como posso, se ninguém mo explica?”, e faz a pergunta: “De quem o profeta está dizendo isso?” Peço-te, suba no carro”, e durante a viagem – não sei quanto tempo, penso que ao menos duas horas – Filipe explicou: explicou Jesus (conf. versículos 26-35).
Aquela inquietude que este senhor tinha na leitura do profeta Isaías era propriamente do Pai, que atraia a Jesus: o tinha preparado, o tinha levado da Etiópia a Jerusalém para adorar Deus e depois, com essa leitura, tinha preparado o coração para revelar Jesus, a ponto que assim que viu a água disse: “Posso ser batizado”. E ele acreditou.
E isso – que ninguém pode conhecer Jesus sem que o Pai o atraia –, isso é válido para o nosso apostolado, para a nossa missão apostólica como cristãos. Penso também nas missões.
“O que você vai fazer nas missões?” – “Eu, converter as pessoas” – “Pare, você não vai converter ninguém! Será o Pai a atrair aqueles corações para reconhecer Jesus”. Ir em missão é dar testemunho da própria fé; sem testemunho você não fará nada. Ir em missão – e são bons missionários! – não significa criar grandes estruturas, coisas… e parar por aí. Não: as estruturas devem ser testemunhos. Você pode fazer uma estrutura hospitalar, educacional de grande perfeição, de grande desenvolvimento, mas se uma estrutura é sem testemunho cristão, seu trabalho aí não será um trabalho de testemunha, um trabalho de verdadeira pregação de Jesus: será uma sociedade de beneficência, muito boa – muito boa! – mas nada mais.
Se eu quero ir em missão, e digo isso se eu quero ir em apostolado, devo ir com a disponibilidade que o Pai atraia as pessoas a Jesus, e isso é feito pelo testemunho. Jesus mesmo o disse a Pedro, quando confessa que Ele é o Messias: “Feliz és tu, Simão Pedro, porque quem te revelou isso foi o Pai”. É o Pai que atrai, e atrai com nosso testemunho. “Eu farei muitas obras, aqui, ali, acolá, de educação, disso, daquilo outro…”, mas sem testemunho são coisas boas, mas não são o anúncio do Evangelho, não são lugares que dão a possibilidade que o Pai atraia ao conhecimento de Jesus (conf. Jo 6,44). Trabalho e o testemunho.
“Mas como posso fazer para que o Pai se preocupe em atrair essas pessoas?” A oração. E essa é a oração pelas missões: rezar para que o Pai atraia as pessoas a Jesus. Testemunho e oração caminham juntos. Sem testemunho e oração não se pode fazer pregação apostólica, não se pode fazer anúncio. Você fará uma bonita pregação moral, fará muitas coisas boas, todas boas. Mas o Pai não terá a possibilidade de atrair as pessoas a Jesus. E esse é o centro: esse é o centro do nosso apostolado, que o Pai possa atrair as pessoas a Jesus. Nosso testemunho abre as portas às pessoas e nossa oração abre as portas ao coração do Pai para que atraia as pessoas. Testemunho e oração. E isso não é somente para as missões, é também para nosso trabalho como cristãos. Eu dou testemunho de vida cristã, realmente, com o meu estilo de vida? Eu rezo para que o Pai atraia as pessoas a Jesus?
Essa é a grande regra para nosso apostolado, em todos os lugares, e de modo especial para as missões. Ir em missão não é fazer proselitismo. Uma vez… uma senhora – uma boa pessoa, se via que era de boa vontade – se aproximou com dois jovens, um jovem e uma jovem, e me disse: “Este (jovem), Padre, era protestante e se converteu: eu o converti. E esta (jovem) era…” – não sei, animista, não sei o que me disse, “e eu a converti”. E a senhora era boa: boa. Mas errava. Perdi um pouco a paciência e disse: “Escute-me, a senhora não converteu ninguém: foi Deus quem tocou o coração das pessoas. E não se esqueça: testemunho, sim; proselitismo, não”.
Peçamos ao Senhor a graça de viver nosso trabalho com testemunho e com oração, para que Ele, o Pai, possa atrair as pessoas a Jesus.
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
Vatican News
Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, manhã desta segunda-feira (27/04) da III Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento aos artistas:
Rezemos hoje pelos artistas, que têm esta capacidade de criatividade muito grande e pelo caminho da beleza nos indicam o caminho a seguir. Que o Senhor nos dê a todos a graça da criatividade neste momento.
Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 6,22-29) em que Jesus repreende a multidão por buscá-lo, após a multiplicação dos pães e dos peixes, somente porque se saciou, e a exortou a esforçar-se não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem dará. A multidão pergunta o que deve fazer e Jesus responde: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”. A multidão que ouvia Jesus sem cansar-se – disse Francisco –, uma vez saciada, pensava em fazê-lo rei: tinha esquecido o primeiro entusiasmo pela Palavra de Jesus. E o Senhor recorda à multidão o primeiro sentimento. Corrige o caminho das pessoas que tinham tomado um caminho mais mundano que evangélico. Assim se dá também conosco quando nos distanciamos do caminho do Evangelho e perdemos a memória do primeiro entusiasmo pela Palavra do Senhor. Jesus nos faz voltar ao primeiro encontro; esta é uma graça diante das tentações de distanciar-nos. A graça de voltar sempre ao primeiro chamado, quando Jesus nos olhou com amor. Cada um de nós tem a experiência do primeiro encontro em que Jesus nos disse: “Segue-me”. Depois, ao longo do caminho, nos distanciamos e perdemos o frescor do primeiro chamado. O Papa convida a rezar para que o Senhor nos dê a graça de voltar ao momento em que fizemos a experiência de encontrar Jesus.
A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
As pessoas que tinham ouvido Jesus durante todo o dia, e depois tiveram esta graça da multiplicação dos pães e viu o poder de Jesus, queriam fazê-lo rei. Antes iam até Jesus para ouvir a palavra e também para pedir a cura dos doentes. Passaram o dia inteiro ouvindo Jesus sem entediar-se, sem cansar-se ou (estar) cansadas, mas estavam ali, felizes. Mas depois quando viram que Jesus lhes dava de comer, algo que elas não esperavam, pensaram: “Esse seria um bom governante para nós e certamente será capaz de libertar-nos do poder dos Romanos e levar o país adiante”. E se entusiasmaram para fazê-lo rei. A intenção delas mudou, porque viram e pensaram: “Bem… porque uma pessoa que faz este milagre, que dá de comer ao povo, pode ser um bom governante”. Mas naquele momento tinham esquecido o entusiasmo que a Palavra de Jesus suscitava em seus corações.
Jesus afastou-se e foi rezar. Aquelas pessoas, se vê, ficaram ali, e no dia seguinte buscavam Jesus, “porque deve estar aqui”, diziam, porque tinham visto que não havia subido na barca com os outros. E havia uma barca ali, que ficou ali… Mas não sabiam que Jesus tinha alcançado os outros caminhando sobre as águas. Desse modo, decidiram ir até a outra parte do mar de Tiberíades procurar Jesus e quando o viram, a primeira palavra que lhe dizem (é): “Rabi, quando chegaste aqui?”, como a dizer: “Não entendemos, isso parece uma coisa estranha”.
E Jesus lhes faz voltar ao primeiro sentimento, ao que elas tinham antes da multiplicação dos pães, quando ouviam a Palavra de Deus: “Em verdade, em verdade, eu vos digo:
estais me procurando não porque vistes sinais – como no início, os sinais da palavra, que as entusiasmavam, os sinais da cura –, não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. Jesus revela a intenção delas e diz: “Mas é assim, mudastes de atitude”. E elas, ao invés de justificar-se: “Não, Senhor, não…”, foram humildes. Jesus continua: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. E elas, concordes, disseram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus? “Que acrediteis no Filho de Deus”. Esse é um caso no qual Jesus corrige a atitude das pessoas, da multidão, porque no meio do caminho se tinha um pouco distanciado do primeiro momento, da primeira consolação espiritual e tinha tomado um caminho que não era justo, uma caminho mais mundano que evangélico.
Isso nos leva a pensar as muitas vezes que nós na vida começamos um caminho no seguimento de Jesus, atrás de Jesus, com os valores do Evangelho, e na metade do caminho nos vem outra ideia, vemos algum sinal e nos distanciamos e nos conformamos com uma coisa mais temporal, mais material, mais mundana, pode ser, e perdemos a memória daquele primeiro entusiasmo que tivemos quando ouvíamos Jesus falar. O Senhor nos faz voltar sempre ao primeiro encontro, ao primeiro momento no qual Ele nos olhou, nos falou e fez nascer dentro de nós a vontade de segui-lo. Essa é uma graça a ser pedida ao Senhor, porque nós na vida sempre teremos esta tentação de distanciar-nos porque vemos outra coisa: “Mas aquilo dará certo, mas aquela ideia é boa…” Distanciamo-nos.
A graça de voltar sempre ao primeiro chamado, ao primeiro momento: não esquecer, não esquecer a minha história, quando Jesus me olhou com amor e me disse: “Esse é o vosso caminho”; quando Jesus através de tantas pessoas me fez entender qual era o caminho do Evangelho e não outros caminhos um pouco mundanos, com outros valores. Voltar ao primeiro encontro.
Sempre impressionou-me que entre as coisas que Jesus disse na manhã da Ressurreição: “Ide aos meus discípulos e dizei a eles que vão à Galileia, ali me encontrarão”, Galileia era o lugar do primeiro encontro. Ali tinham encontrado Jesus. Cada um de nós tem a sua “Galileia dentro (de si), o próprio momento no qual Jesus se aproximou e nos disse: “Segue-me”. Na vida acontece isso que aconteceu a essas pessoas – boas, porque depois lhe dizem: “Que devemos fazer?”, imediatamente obedeceram –, acontece que nos distanciamos e buscamos outros valores, outras hermenêuticas, outras coisas, e perdemos o frescor do primeiro chamado. O autor da Carta aos Hebreus nos chama a isso: “Recordai-vos dos primeiros dias”. A memória, a memória do primeiro encontro, a memória da “minha Galileia”, quando o Senhor me olhou com amor e me disse: “Segue-me”.
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
Vatican News
Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (29/04), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico por causa da pandemia de coronavírus, o Papa Francisco concluiu o percurso das Bem-aventuranças.
“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”. Segundo Francisco, ela “anuncia a mesma felicidade que a primeira: o Reino dos Céus é dos perseguidos e dos pobres em espírito”.
“Pobreza em espírito, choro, mansidão, sede de santidade, misericórdia, purificação do coração e obras de paz podem levar à perseguição por causa de Cristo, mas, no final, essa perseguição é motivo de alegria e grande recompensa nos céus”, sublinhou Francisco. Para o Pontífice, “o caminho das Bem-aventuranças é um caminho pascal que leva de uma vida segundo o mundo para a vida segundo Deus, de uma existência guiada pela carne, ou seja, pelo egoísmo, para uma existência guiada pelo Espírito”. E o Papa acrescentou:
O mundo, com seus ídolos, seus acordos e suas prioridades, não pode aprovar esse tipo de existência. As ‘estruturas de pecado, muitas vezes produzidas pela mentalidade humana, tão estranhas ao Espírito da verdade que o mundo não pode receber, só podem rejeitar a pobreza ou a mansidão ou a pureza e declarar a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, como algo a ser marginalizado. O mundo pensa assim: estes são idealistas ou fanáticos.
Segundo Francisco, “se o mundo vive em função do dinheiro, qualquer um que demonstre que a vida pode ser cumprida no dom e na renúncia se torna um incômodo para o sistema ávido. A palavra ‘fastio’ é fundamental, pois o testemunho cristão, que faz bem a muitas pessoas, incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana. Eles vivem isso como uma repreensão. Quando a santidade aparece e a vida dos filhos de Deus emerge, nessa beleza há algo de inconveniente que exige uma tomada de posição: ser questionado e abrir-se ao bem ou recusar essa luz e endurecer o coração”.
O Papa frisou que “é curioso, chama a atenção ver como, nas perseguições dos mártires, a hostilidade aumenta a ponto de incomodar”. Basta recordar “as perseguições das ditaduras europeias do século passado: como se chega à ira contra os cristãos, contra o testemunho cristão e contra o heroísmo dos cristãos”.
É doloroso recordar que, neste momento, existem muitos cristãos que sofrem perseguições em várias áreas do mundo, e devemos esperar e rezar para que sua tribulação seja interrompida o mais rápido possível. São muitos: os mártires de hoje são mais do que os mártires dos primeiros séculos. Expressamos nossa proximidade a esses irmãos e irmãs: somos um único corpo, e esses cristãos são os membros ensanguentados do corpo de Cristo, que é a Igreja.
Segundo o Papa, “devemos estar atentos para não ler essa Bem-aventurança de maneira vitimista, de auto-comiseração. De fato, o desprezo dos homens nem sempre é sinônimo de perseguição: logo após Jesus diz que os cristãos são o “sal da terra” e alerta contra o perigo de “perder o sabor”, caso contrário, o sal “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Portanto, há também um desprezo que é culpa nossa quando perdemos o sabor de Cristo e do Evangelho”.
Francisco afirmou que “devemos ser fiéis ao caminho humilde das Bem-aventuranças, porque é o que leva a ser de Cristo e não do mundo. Vale a pena lembrar o percurso de São Paulo: quando ele pensava que era justo, era de fato perseguidor, mas quando descobriu que era perseguidor, tornou-se um homem de amor, que enfrentou de bom grado o sofrimento da perseguição que sofria”.
A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, nos fazem assemelhar a Cristo crucificado e, associando-nos à sua paixão, são a manifestação de uma nova vida. Esta vida é a mesma de Cristo, que para nós homens e para a nossa salvação foi “desprezado e rejeitado pelos homens”. Acolher seu Espírito pode nos levar a ter tanto amor no coração a ponto de oferecermos a vida ao mundo sem fazer acordos com seus enganos e aceitando a recusa.
“Os acordos com o mundo são perigosos: o cristão é sempre tentado a fazer acordos com o mundo, com o espírito do mundo”, disse o Papa, ressaltando que é preciso “rejeitar os acordos e seguir o caminho de Jesus Cristo. A vida do Reino dos Céus é a maior alegria, a verdadeira alegria”.
“Nas perseguições, há sempre a presença de Jesus que nos acompanha, a presença de Jesus que nos consola e a força do Espírito que nos ajuda a seguir em frente. Não desanimemos quando uma vida coerente do Evangelho atrai as perseguições das pessoas: o Espírito nos sustenta nesse caminho”, concluiu o Papa.
Vatican News
Lideranças religiosas da região de Brumadinho realizaram, na manhã desta quinta-feira (31), um ato ecumênico no centro de acolhimento montado pra receber as famílias das vítimas. Eles se reuniram na Estação Conhecimento da cidade, uma fundação que está sendo usada pela Vale como base pra essas famílias.
Cerca de duzentas pessoas participaram do culto. Ele foi organizado por padres da Arquidiocese de Belo Horizonte e pastores evangélicos da Igreja Batista. A ideia do culto foi unir parentes e voluntários em torno da fé pra tentar trazer algum tipo de consolo. Até o meio da tarde desta quinta, 99 mortes confirmadas e 57 corpos já foram identificados; 257 pessoas seguem desaparecidas.
Está marcada para as 19h30, uma missa de sétimo dia em memória das vítimas da tragédia, que será celebrada pelo arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo na Igreja Matriz de São Sebastião, no centro de Brumadinho.
A pedido do arcebispo, todas as paróquias da arquidiocese de Belo Horizonte – num total de 28 cidades – vão fazer missas de sétimo dia dedicadas às vítimas.
Fonte: G1
Uma igreja protestante holandesa encerrou nesta quarta-feira (30) uma missa que ocorria de maneira ininterrupta desde outubro. A medida havia sido tomada para proteger uma família de armênios que arriscava ser deportada. A lei holandesa proíbe que a polícia faça buscas em um templo enquanto serviços religiosos estiverem em andamento.
A Igreja Bethel, uma pequena capela em um bairro residencial de Haia, anunciou o fim do serviço de três meses um dia depois de a coalizão governamental holandesa anunciar que vai rever os pedidos de asilo de centenas de crianças que haviam tido suas solicitações rejeitadas.
Milhares de fiéis estavam rezando sem parar para proteger a família Tamrazyan – formada pelos pais, duas filhas e um filho – da deportação. O último culto foi realizado na quarta-feira às 13h30 do horário local (10h30 em Brasília) e foi seguido por uma festa.
“O acordo político de terça-feira agora oferece a famílias como os Tamrazyans uma perspectiva segura na Holanda”, disse em comunicado o representante da Igreja, Theo Hettema.
“Estamos incrivelmente gratos por um futuro seguro na Holanda para centenas de famílias de refugiados”, acrescentou Hettema.
A família Tamrazyan fugiu da Armênia depois que o pai recebeu ameaças de morte por causa de suas atividades políticas. Eles estão na Holanda há nove anos. A família se abrigou na igreja após as autoridades terem rejeitado os pedidos de asilo, que incluíam a permanência dos filhos no país.
O acordo parlamentar garante que sejam examinados os pedidos de cerca de 700 crianças que nasceram e foram criadas na Holanda enquanto seus pais aguardavam a resposta aos pedidos de asilo.
Quatro partidos da coalizão chegaram a este acordo na terça-feira, depois de fortes críticas por parte de grupos de direitos humanos e da sociedade civil porque o caso envolve a deportação de crianças, muitas das quais nasceram na Holanda e não conhecem nem o idioma e nem o país de origem de seus pais.
Segundo este acordo, pelo menos 90% das crianças – 630 de 700 – poderão ficar junto a seus familiares, depois que seus casos foram reconsiderados de forma individual.
A questão tinha deteriorado a relação entre os quatro partidos – o liberal VVD, a Chamada Democrata-Cristã (CDA), Democratas 66 e União Cristã – e ameaçava iniciar uma crise de governo porque os liberais se negavam a conter estas deportações, enquanto os outros três partidos pediam para paralisá-las até a publicação de um relatório oficial sobre a gestão do tema nos últimos anos.
A coalizão também acordou encurtar os procedimentos para avaliar as solicitações de asilo, que chegaram a demorar mais de uma década entre recursos e julgamentos, e que será destinado mais dinheiro aos serviços de imigração.
“Tivemos que encontrar um novo equilíbrio e acredito que funcionou”, celebrou Klaas Dijkhoff, o líder do VVD, partido do atual primeiro-ministro, Mark Rutte.
G1